Ainda não estou pronto para investir activamente na bolsa.
... vou voltar ao sítio onde tudo começou: investir passivamente ao rastrear um índice diversificado de acções, enquanto estudo finanças empresariais e avaliação de empresas.
Sou um empresário (aprendi a respeitar mais a palavra empresário do que empreendedor, ainda haverei de escrever aqui umas linhas sobre isso), nascido e criado por empresários.
Negócio, concorrência e competitividade são termos que sempre me foram familiares, e, mais tarde (demasiado, infelizmente), aprendi sobre investimento e juro composto.
Nesta palestra sobre "economic moats" (vantagens competitivas), Pat Dorsey toca em todos estes pontos, recheando o discurso com inúmeros exemplos, para mais fácil e rápida compreensão.
Confesso que cada palavra ressoou na minha mente de tal forma, que acabei por tomar uma decisão que há já algum tempo ponderava.
Para ter sucesso com uma estratégia activa de investimento mobiliário a longo prazo, baseado em análise fundamental (ie, analisando várias empresas, apurando qual delas tem mais possibilidade de retorno do investimento no futuro, e aguardando que a sua cotação bolsista seja suficientemente interessante para investir em algumas acções dessa empresa, a longo prazo), teria que dedicar a minha vida (ou uma grande parte dela) a estas tarefas.
E esse é um compromisso que neste momento não posso fazer, porque tenho outras responsabilidades, e outros interesses.
Quanto mais estudo (ou, escrito de outra maneira, "quanto mais tempo roubo à minha família e às minhas empresas" - investimento que estimo rondar actualmente as 2000 horas fora do expediente normal de trabalho), mais me apercebo da vastidão do que ainda não sei, e mais exigente me torno relativamente à decisão de comprar, ou vender, a participação numa empresa (ie, as acções dessa empresa, poucas que sejam).
Tudo o que não seja uma análise fundamental dessa empresa, incluindo as suas vantagens competitivas a longo prazo (moats), o que obviamente inclui o estudo do respectivo sector e/ou indústria, a sua concorrência, ameaças, etc..., a performance histórica dos seus indicadores, e o cálculo do valor presente dos seus futuros fluxos de caixa projectados (em cenários optimista e pessimista), parece-me apenas investir com base numa moeda ao ar: "cara entro, coroa fico de fora".
Embora me sinta entusiasmado com a ideia, ainda não tenho o conhecimento, nem consigo abdicar do tempo (ainda) para pesquisar quotas de mercado, comparar indicadores fundamentais, analisar 4 ou 5 empresas concorrentes para cada empresa na qual tenho hipotético interesse em investir, e passar os dias enterrado em relatórios e contas.
Por outro lado, devido ao valor temporal do dinheiro e ao juro composto, é-me também muito claro que não posso desperdiçar o activo mais precioso do mundo: tempo. Tenho que continuar a poupar, continuar a investir, e continuar a reinvestir os réditos desse investimento.
Portanto, se não me sinto confiante ainda para continuar a investir activamente na bolsa, mas tenho que continuar a investir, vou voltar ao sítio onde tudo começou: investir passivamente ao rastrear um índice diversificado de acções, enquanto estudo finanças empresariais e avaliação de empresas.
Sublinho o quão curioso e satisfatório é, que o esforço despendido para melhor entender as empresas nas quais poderei vir a investir me esteja a ajudar a entender e ter um olhar mais crítico sobre as minhas próprias empresas.
Afinal de contas, se as minhas empresas não forem fundamentalmente atractivas para mim, sê-lo-ão aos olhos de quem ?
PS: Obrigado Manuel Feijão Mauricio, és uma fonte inesgotável de maneiras interessantes para me fazer "perder" tempo. Abraço