Até já, João, vemo-nos em breve, algures, em águas mais calmas.
O teu relógio parou, meu Bom Amigo, meu amigo pescador, e nada posso fazer senão chorar.
Eu era apenas um garoto quando nos conhecemos: achava que ia conquistar o mundo, começando pela amiga da tua filha.
A tua alma genuinamente boa e simples, e a tua família generosa, ergueram-me de desconhecido a amigo, de vizinho a confidente.
Abriste-nos a tua casa, que foi refúgio, cantina, cinema, estádio, sanatório, tertúlia, confessionário.. família.. vezes e vezes sem conta. Uma casa cheia, acolhedora, onde cabia sempre mais um.
As histórias do Mar, da faina e da tua juventude espicaçaram a minha imaginação, entre o tilintar de pratos e copos, e sonantes car^H^H^Hgargalhadas!
E depois a merda da vida aconteceu, e guardarei sempre a sombra que podia ter aparecido mais. Encaixado mais. Forçado mais. Mas fiquei aquém, e perdi-te no tempo e na distância.
E agora o teu relógio parou, meu Bom Amigo, meu amigo pescador, e nada posso fazer senão chorar.
Até já, João, vemo-nos em breve, algures, em águas mais calmas.
PS: Quando chegares aí acima procura a minha Mãe: vou pedir-lhe para cuidar de ti, até nos encontrarmos novamente. Em breve, algures, em águas mais calmas.