Teletrabalho ? Só remunerando pelo desempenho.
Sou céptico relativamente ao teletrabalho, se por "teletrabalho" nos referirmos apenas a deslocalizar um colaborador para sua casa, ou para outro local qualquer, sem supervisão.
Quem priva comigo sabe o quão céptico sou relativamente ao teletrabalho, se por "teletrabalho" nos referirmos apenas a deslocalizar um colaborador para sua casa, ou para outro local qualquer, sem supervisão.
Confiar unicamente na responsabilidade e idoneidade do funcionário como garantes da manutenção da sua produtividade tenderá a não funcionar na maioria dos casos: há demasiadas distracções, demasiadas justificações possíveis e plausíveis para que os resultados não apareçam, (naturalmente com maior incidência no trabalho criativo, mais difícil de medir). E até dolo, como atesta este artigo do The Wall Street Journal.
No fim do dia, somos todos humanos, e "errare humanum est". Mas o mercado livre não se compadece com questões filosóficas, e tratará de penalizar rapidamente as organizações que, colocando os seus recursos humanos em teletrabalho, não garantam a produtividade dos mesmos.
Acredito que a solução é simplesmente remunerar os colaboradores pelo seu desempenho, em vez do tempo que dedicam às funções e responsabilidades que lhes são atribuídas.
Uma vez definidos objectivos para o desempenho, acordada a retribuição variável indexada a esses objectivos e implementados mecanismos de controle, e uma vez satisfeitos os recursos e requisitos necessários à boa prossecução do trabalho, o ónus da assiduidade e pontualidade, a exclusividade, o foco e a entrega mensurável de resultados passam para o funcionário, da mesma forma como passariam para um fornecedor externo a quem a organização adjudicasse um serviço.
Nota: Este tipo de retribuição (variável, indexada ao desempenho) deveria ser implementado em todas as organizações, independentemente se em regime de teletrabalho ou não, pois não compreendo a motivação de um colaborador em "produzir mais", se no final do mês ganha o mesmo.1
Com salários a dispararem devido à falta de recursos humanos nas tecnologias de informação, o mercado de trabalho está em ebulição, com novos contratos de trabalho a serem negociados diariamente, oportunidade para melhor se contornarem as limitações que a inflexível legislação laboral portuguesa coloca.
Mesmo assim, antecipo que muitas relações colaborador/organização serão simplesmente substituídas por fornecedores externos, obviamente comprometidos pelos orçamentos "à peça" que lhes foram adjudicados.
Daí a cada vez maior popularidade de alternativas como a Fiverr, Freelancer ou Upwork, que identifiquei como um dos drivers da inovação em Maio do ano passado, e nessa oportunidade de investimento incluí também as empresas que disponibilizem soluções que facilitem a transição para o teletrabalho, e o controlo do desempenho durante o mesmo.
PS: Questiono-me sobre como lidará a legislação laboral portuguesa com cenários de "emprego simultâneo em teletrabalho" como os mencionados no artigo do The Wall Street Journal. A discussão começa aqui.
Uma comparação simples entre dois restaurantes em Famalicão que conheço bem: num deles os empregados de mesa necessitam de 6 visitas a cada mesa para limpar e higienizar a mesa onde esteve o cliente anterior, trazer as entradas, anotar o pedido do novo cliente, trazer a sopa, as bebidas e o prato principal. No outro, necessitam de 4 visitas para fazer o mesmo, mas aproveitam cada deslocação na sala para fazer o máximo possível no maior número de mesas.
No primeiro, andam a passo. No segundo, correm. No primeiro, ganham o salário fixo acordado no final do mês. No segundo, a retribuição base é complementada com um prémio variável, dependendo de objectivos pessoais (mesas atendidas por cada um) e da equipa (facturação do dia). Adivinham qual o restaurante ao qual prefiro ir, e que está sempre lotado, porque os clientes são servidos mais rapidamente ?