O nódulo no lobo esquerdo da minha tiróide, diagnosticado e biopsado em Outubro de 2020 com 3cm / benigno no sistema Bethesda, tinha agora 5cm.
Não tinha queixas (dores, dificuldade em deglutir, alterações hormonais ou na voz), e não dei especial relevância à questão estética. Mas confesso que, todos os dias, quando o olhava e tocava ao espelho, me questionava se um dia me iria arrepender, caso não removesse o nódulo.
"E se um dia isto se torna maligno? Será que não tornou já? O endocrinologista diz que é muito raro, mas às vezes acontece. Serás tu o meu carrasco? Será por tua causa que não vou poder ajudar a B a crescer, e a tornar-se na Mulher que está destinada a ser?”
Em Julho de 2021 ponderei a excisão, e mais uma vez agradeço as recomendações que me deram para um cirurgião.
Por referência da minha mãe, em Setembro de 2021 tomei conhecimento da existência de uma alternativa à lobectomia, tiroidectomia parcial ou total, com enormes vantagens para mim: a termoablação por micro-ondas.
Um procedimento minimamente invasivo, sem cortes nem cicatrizes, anestesia local, recobro imediato, sem riscos de hipotiroidismo, que consiste em usar uma agulha com um eléctrodo para destruir o nódulo, queimando-o com micro-ondas. No meu caso, hoje, 20 Watts durante 10 minutos.
Nas palavras da Dra. Teresa Dionísio, que desafiou o Hospital Santos Silva a avançar e a referenciar doentes, e que ao fim de 2 anos já tinha efectuado o procedimento a 100 pessoas, "para o hospital também é vantajoso, apesar do preço da agulha, que custa cerca de mil euros, poupa-se a ocupação de um bloco operatório, o recurso a uma equipa cirúrgica, incluindo anestesista, e a ocupação de uma cama no internamento".
Na altura este tipo de procedimento ainda não era comparticipado pelas seguradoras (agora praticamente todos os hospitais privados o fazem), e pelo SNS só era possível fazê-lo em Gaia (aqui no Norte creio que já é possível fazê-lo também nos hospitais de Guimarães e Viana do Castelo, pelo menos), pelo que pedi à minha médica de família para passar o processo para a ULSGE - Unidade Local de Saúde de Gaia e Espinho.
Depois, durante 3 anos deparei com os "normais" atrasos no acesso aos serviços de saúde do SNS: as dificuldades na interacção com a médica de família, (a "porta para o SNS"), a escassez de meios humanos e técnicos, a confissão que o processo seria muito mais rápido no privado e, mais inesperado, fui testemunha de descoordenação e rivalidades entre unidades do próprio hospital. Histórias que trago comigo.
Dei à ULSGE até ao final de 2024 para resolver o assunto, caso contrário abordaria um hospital privado, com ou sem comparticipação. E acabou por acontecer hoje, para suspiro de alívio, como confessei no final do procedimento:
"Como se sente, Sr. Araújo?
Sem qualquer incómodo, tranquilo, feliz e aliviado."
Veremos nas próximas consultas de acompanhamento se a ablação destruiu completamente o nódulo, ou se necessitarei de uma segunda intervenção. E, a médio/longo prazo, veremos se aparecem outros.
Já agora, hoje assisti ao que já tinha visto aquando da cirurgia ao coração da Beatriz, no Hospital de S. João: pontualidade, organização, competência, equipamentos modernos (embora não tenha a certeza se propriedade da ULSGE, outra das tais histórias), humanismo.
Muito grato à Dra. Teresa Dionísio e à equipa da UFRI - Unidade Funcional de Radiologia de Intervenção da ULSGE. Bem-hajam.
Como amiúde escrevo, o problema do SNS está no acesso a ele, provocado por deficiente investimento, deficiente estratégia, deficiente gestão, ideologia política e sobrecarga pela COVID19, e explorando o espírito de missão e os milhões de horas extraordinárias de profissionais escassos e mal pagos para conseguir manter as portas abertas.
Uma vez "lá dentro", a excelência do serviço prestado é inquestionável.